Coluna da Ludi
- circulareslivros
- 17 de fev. de 2024
- 2 min de leitura
Uma coluna em uma newsletter como o antigo envio de um cartão postal, o remetimento de algo precioso em uma rota incalculável que persiste em desejo de dar concretude a uma novidade, a um acontecimento. A promessa de chegada de uma partilha em afeto, ainda que seja uma crítica. Minha história com a Circulares atravessa corpo e subjetividade, dois puerpérios, duas crianças em um mundo pandêmico, em um Brasil acossado pelo fascismo de um governo anti-vacinas. Lembro de ir à lançamentos em 2022 de máscara n95 e ficar fascinada com as prateleiras repletas de romances publicados por mulheres latino-americanas, em um resgate de fôlego mnemônico, tentava incorporar o nome de uma miríade de Editoras que surgiam pra mim, ali, naquela livraria de rua, vibrante de um amarelo e roxo, auspício de uma temporalidade outra para a Ludimila mãe e leitora. Assim começou minha ligação com essa livraria querida.
Nessa minha estreia na CirculaNews, quero fazer um registro sobre a literatura latino-americana contemporânea produzidas por mulheres que tem me fascinado tanto pelos temas antes abordados majoritariamente por homens: guerras; violência; romances históricos, quanto pela estilística, linguagens de espessura barroca ou de empenho sensorial às voltas com as construções de dilemas, temporalidades e subjetividades ambivalentes que não recaem em uma ética redentora de um nacional ou salvacionista de algum grupo representado. A maternidade, nessas produções contemporâneas, aparece em outro lugar, não romântico e idealizado. Os dois romances, Cinzas na boca e Casas vazias, da autora mexicana Brenda Navarro, publicados pela Dublinense, explora em uma mirada de múltiplos ângulos tanto a adoção, a maternagem biológica e a pressão de uma parentalidade compulsória que persegue e atormenta sobretudo as mulheres. Em nossa próxima conversa, falarei mais desses universos ambivalentes e cheios de afetos negativos que forjam o universo das mulheres. Voltarei à maternidade e também sobre mulheres que escrevem sobre a loucura!
Ludimila Moreira é historiadora, doutora em Literatura pela UnB e mantém o perfil de crítica literária e de artes visuais, o @aveeludi
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