top of page

Hotel Chelsea


Em Nova Iorque, entre a sétima e a oitava avenida, na 222 West 23rd Street, uma construção de doze andares, em tijolos vermelhos, chama a atenção pela sua fachada ladeada por varandas de ferro, ornamentadas por flores. No prédio, desde 1905, funciona o hotel Chelsea, que já foi a casa de inúmeros artistas e celebridades. Em seu hall, todas as artes se encontravam. Literatura, teatro, música, poesia, pintura transbordavam das paredes e dos quartos do Chelsea.



Em uma tarde de 1969, Patti Smith e Robert Marplethorpe chegaram de taxi ao hotel. Talvez tenha sido o fato mais significante da vida dos dois jovens de 22 anos, o ponto de inflexão. Aquelas coisas chamadas de sincronicidade, destino ou “só” o universo dando uma mão. Carregavam apenas seus portfólios, que serviram como caução para o quarto 1.017, o menor do prédio, a 55 dólares por semana. Nos xx anos que ocuparam esse espaço, cruzaram com muitas celebridades em ascensão. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Bob Dylan, Andy Warhol, Charles Bukoswki, Harry Smith, Arthur Clarke. O hotel funcionava como um vórtice criativo na cena artística nova-iorquina. Tanta coisa foi gerada e produzida ali… Nesse turbilhão, Patti experimentou diversas formas de expressão, conheceu as pessoas que a levaram a ganhar os palcos do mundo. Parecia que não se dava conta da revolução cultural a sua volta e da qual já fazia parte.

A Nova York dos anos 70 está bem longe da cidade cosmopolita de hoje. Segundo Charles Dickens, “Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos.” Enquanto a vida noturna surgia vibrante, cheia de experimentação, a cidade passava por problemas sociais e econômicos sérios. A crise do petróleo levou milhares de pessoas ao desemprego, os índices de criminalidade eram altíssimos. Drogas como heroína e crack se espalhavam em todas as ruas da cidade. Claro que essa atmosfera de crise, também atingia os moradores do Chelsea e a história do hotel foi manchada de sangue algumas vezes. O episódio mais conhecido aconteceu no quarto 100. O roqueiro Sid Vicious, do Sex Pistols, encontrou a namorada Nancy Spungen morta, com marcas de facadas. Ele foi acusado de assassiná-la e chegou a ser preso como suspeito. Ao sair da prisão, no mesmo quarto 100, Sid tomou uma overdose de heroína e também morreu. Era 1978. Muitos outros se jogaram das sacadas com grades de ferro com seus girassóis que marcam o hotel.



Às vezes, tesouros aparecem no lixo em forma de portas. Em 2011, o hotel foi fechado para passar por uma reforma. Jim Georgiou, ex-inquilino do hotel, que o diga. Ele viveu lá entre 2002 e 2011, até ser despejado por não pagar o aluguel. Morando na rua, Georgiou observou trabalhadores da reforma do hotel que retiravam as portas dos quartos. Ao vê-las descartadas, ele tomou posse dessas estruturas. Anos depois, as portas foram a leilão. A porta que abria e fechava o quarto de Bob Dylan foi arrematada por 100 mil dólares. Já a que testemunhou o encontro entre Leonard Cohen e Janis Joplin foi comprada por 80 mil dólares.



Outro ambiente do Hotel que também testemunhou muitos encontros animados foi o El Quijote. Era um bar que ficava contínuo ao hotel e os hóspedes podiam acessá-lo por uma porta interna. Fundado por quatro refugiados da Espanha franquista, as paredes com cenas de Don Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes acomodaram muitas conversas entre Andy Warhol e William Burroughs.


The Chelsea was my home and the El Quijote [sic] my bar. (Patti Smith)

O Hotel Chelsea continua sendo, entretanto, a casa de diversos moradores ilustres, que já viviam lá antes de deixar de aceitar residentes. Hoje em dia, os convidados transitórios podem ficar no hotel por apenas 24 noites, após uma fffespera de meses para confirmar a reserva. Sinceramente, acho que vale! Certamente muitos fantasmas vivem no Chelsea, assombração e inspiração. Tenho cá comigo que, se apurarmos os ouvidos, é possível escutar (e ver) muitos dos grandes pelos corredores do hotel.


Quem se anima a fazer um compasso sobre os outros espaços de Nova York frequentados pelos artistas dos anos 70?


Patti Smith mantém um blog com escritos seus: https://pattismith.substack.com


Fizemos uma play list para você escutar enquanto lê Só Garotos






Patti Smith nasceu em 1946 em Chicago. Em 1949 sua família mudou-se para a Filadélfia, onde Patti passou parte da sua infância, até 1957. Foi então que seguiram para Nova Jersey, lugar em que ela viveria por dez anos, até encontrar Nova York, a cidade que lhe acolheria como artista. Gravou seu primeiro álbum em 1975, Horses, considerado pela revista Time um dos 100 melhores de todos os tempos. Depois de Horses, Patti lançou mais dez álbuns de estúdio, sendo o último de 2012, mas só quatro deles foram produzidos antes de Robert morrer devido à AIDS, em 1989. Ela continua na estrada com sua banda. Tem 16 livros publicados.

Mulher, homem, cantora, compositora, atriz, escritora, poeta, pintora, ativista política, filósofa e revolucionária, ela garantiu o reconhecimento de sua arte, tendo recebido inúmeros prêmios ao longo de sua carreira.


Na Circulares, você pode alugar os livros de Patti Smith: Só Garotos O Ano do Macaco

 
 
 

Comments


bottom of page