Sobre o patriarcado
- circulareslivros
- 12 de ago. de 2021
- 2 min de leitura

A diferença sexual entre homens e mulheres foi convertida em diferenças de liberdade, de acesso ao mundo público, de poder e sujeição hierárquica. A discussão de patriarcado apareceu durante a segunda onda do feminismo nos anos 60 e 70 e o definiu como um sistema de dominação e opressão das mulheres. A organização social patriarcal confere aos homens, pelo simples fato de terem nascido homens, poder político e econômico sobre as mulheres. As mulheres foram relegadas à esfera privada da vida social enquanto aos homens foram reservados os espaços da esfera pública por meio da exploração masculina do trabalho de cuidado da mulher. Aos homens foram garantidos salários para trabalhar em órgãos públicos, empresas, fábricas e instituições políticas, enquanto às mulheres foram impostas obrigações, não remuneradas, de criação dos filhos, cuidado com a casa, doentes e idosos. O trabalho não remunerado permanece como obrigação de grande parte das mulheres mesmo depois de essas terem conquistado o direito ao acesso à educação e ao emprego.
O sistema patriarcal permitiu direitos sexuais irrestritos aos homens e construiu a ideia de que os corpos das mulheres não podem ter vontade e liberdade. Violência doméstica, feminicídio, abuso sexual, estupro, criminalização do aborto são todas formas de corporificar a estrutura de poder masculinizada. Dominar os corpos da mulheres é a demonstração extrema do poder conferido aos homens dentro da hierarquia do patriarcado.
A sociedade patriarcal construiu imagens relacionadas ao masculino e ao feminino que estabelecem os papéis de cada um no âmbito das famílias e no mundo do trabalho, a chamada divisão social do trabalho. O critério para dividir as atividades sociais é basicamente o sexo. As mulheres foram relegadas às atividades do cuidado. As profissões tipicamente ocupadas por mulheres como enfermeiras e professoras são desvalorizadas socialmente e, por consequência, financeiramente
A distinção entre os tipos de trabalho ocupado pelas mulheres e pelos homens e o controle dos corpos das mulheres tem papel central na opressão patriarcal, contra qual o feminismo luta. Os sinais de que o patriarcado persiste e foi institucionalizado no mundo contemporâneo estão claros: os homens ainda são a maioria nos cargos públicos, detendo poder político e econômico que os mantém no topo da pirâmide social; as histórias das mulheres são invisibilizadas e desvalorizadas; as mulheres continuam sendo vítimas de violências (física, sexual, psicológica, moral, patrimonial, política) apenas por serem mulheres; os homens continuam se isentando das obrigações da esfera privada relacionadas ao cuidado, e quando o fazem, são vangloriados por “ajudar” a mulher; e o controle dos corpos das mulheres em pleno século XXI é permitido por leis que negam seus direitos reprodutivos.
Enfim, os construtos mentais relacionados à condição da mulher estão enraizados na estrutura patriarcal que ainda hoje determina a educação, a cultura, o trabalho e os direitos das pessoas de acordo com o seu sexo.
(Iara Alves circulou suas ideias por aqui)
A @Circulares tem diversos livros que tratam da questão de gênero: O Conto da Aia, de Margareth Atwood A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha Histórias de Mulheres, de Rosa Montero A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, de Svetlana Aleksievitch Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf
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