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Sobre o racismo


Não se vê ninguém afirmar ser racista. Essa é uma verdade feia de se dizer, que só acontece com o outro, em outro país, em outros tempos passados. No mundo contemporâneo, o racismo é visto como marginal. Não se fala sobre, não se admite, não se reconhece como racista.

No entanto, o olhar do branco o entrega. Os comentários racistas em tom de librincadeira, a objetificação e sexualização dos corpos negros e a hierarquização das relações violam as pessoas negras, individual e coletivamente, a cada dia. O racismo não permite que os interesses das pessoas negras sejam parte da agenda pública. As diferenças relacionadas ao fenótipo são ligadas a valores hierarquizados. Assim, não só as pessoas negras são vistas como diferentes, mas sua cultura, sua religião e sua história são colocadas em posição inferior, são apagadas e estigmatizadas.

O racismo está diretamente ligado ao poder conferido política, social e historicamente ao grupo racial dominante de brancos. O poder é uma dimensão importante do racismo, pois ele determina a presença desigual de brancos e negros na representação na política, no sistema judiciário, na administração pública, nos meios de comunicação, e até mesmo nos livros de história. A distribuição geográfica das habitações das pessoas negras e brancas nas cidades também revela o racismo estrutural, que exclui as pessoas negras das estruturas sociais e políticas.

O dia a dia das pessoas negras é marcado pelo tratamento desigual que elas recebem nas instituições em função da sua cor. Seja nas escolas, no mercado de trabalho ou no sistema de justiça criminal, as pessoas brancas são privilegiadas pelo racismo institucional que os valorizam em relação a outros grupos racializados.

No cotidiano, o olhar do sujeito branco sobre a pessoa negra a coloca na situação de “o outro” ou “a outra”: ao infantilizar o sujeito negro como se este não pudesse ter autonomia para construir seus caminhos de sucesso; ao animalizar a pessoa negra como se esta não sentisse as mesmas dores ou tivesse as mesmas sensibilidades; e, ao erotizar seus corpos como se o apetite sexual das pessoas negras fosse institivamente violento. Atribuições de sentido a palavras e gestos das pessoas como “agressivo (a)” e referências sexualizadas aos corpos das pessoas negras são exemplos comuns de racismo cotidiano.

(Iara Alves circulou suas ideias por aqui)


Grada Kilomba, no Livro Memórias da Plantação, retrata episódios narrados de situações cotidianas sofrida por mulheres negras. Com formação na psicologia e na psicanálise, a escritora e artista portuguesa, com raízes angolana e são tomense, examina as memórias e traumas de mulheres negras que sangram pela violência sofrida ao serem colocadas como a outra. A narrativa poética, combinada com conceitos importantes do feminismo negro e do pós colonialismo, nos traz uma experiência ímpar de leitura, pois ao mesmo tempo que nos brinda com o conhecimento dos estudos interdisciplinares de gênero, nos toca ao ponto de sentir a dor das feridas não tratadas.

A @Circulares tem outros livros que abordam o racismo: Torto Arado, de Itamar Vieira Junior Quarto de Despejo, de Carolina de Jesus Cidadã de Segunda Classe, de Buchi Emechetta Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie Caderno de Memórias Coloniais, de Isabela Figueiredo Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida Garota, Mulher, Outras, de Bernardine Evaristo A Resposta, de Kathryn Stockett

 
 
 

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