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Sobrevivente, de Chuck Palahniuk


Em Sobrevivente, Tender Branson revisa a sua vida, antes de se matar. A mediocridade dele contrasta com a popularidade que alcança por ser o único sobrevivente de uma seita religiosa. O relato ficará registrado na caixa preta do avião sequestrado para ser a via de sua morte.

A seita que Tender integrou provavelmente foi inspirada no Templo do Povo, fundada e dirigida por Jim Jones, com orientação cristã pentescostal socialista. O Brasil faz parte dessa história. Jones, que morou em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro (1960–1963), disse que virou comunista nas favelas da cidade fluminense. Um pouco antes do golpe militar de 1964 ele retornou para os Estados Unidos. O Templo do Povo começou seus trabalhos em 1956, em Indianápolis, mas foi em Washington, nos anos 1970, que a seita virou um fenômeno. Contava com 3 mil filiais e aproximadamente 20 mil simpatizantes, inclusive alguns nomes importantes, como George Moscone, prefeito de São Francisco, e Rosalynn Carter, primeira dama dos EUA.


Jim Jones

Toda essa visibilidade chamou a atenção da sociedade e das autoridades americanas que passaram a investigar e questionar a seita e seu guia. Muitos dissidentes começaram a denunciar casos de abuso sexual e psicológico, bem como enriquecimento ilícito. Jim Jones resolveu então procurar um novo local para sediar sua comunidade. A Guiana, na América Central, reunia diversos atributos: população majoritariamente negra, inglês como idioma oficial e um governo simpático ao socialismo. Em 1974, Jonestown começou a ser construída, mas foi em 1977 que passou a ser a sede definitiva do Templo do Povo, com a mudança definitiva de Jim Jones, juntamente com mil membros, para aquele país.

O reverendo vivia atormentado pelas visões apocalípticas que dizia ter, que envolviam questões sociais daquela época, como explosões em forma de cogumelos, guerra nuclear e um confronto entre Estados Unidos e União Soviética. Em parte, esses delírios eram consequência do uso de drogas. Atormentado com a ideia fixa de que Jonestown seria destruída por um ataque de mercenários da extrema direita americana, passou a pregar a ideia do suícidio revolucionário.

Em 1978, o deputado americano Leo Ryan (democrata) organizou uma comitiva e se deslocou para a Guiana com o objetivo de averiguar as condições de vida dos membros da seita. Algumas pessoas o procuraram e pediram para que as levassem embora, demonstrando o descontentamento e situações de violências diversas. Ao seguirem para o embarque, a comitiva americana foi atacada, com uma rajada de tiros. Morreram cinco pessoas, o deputado entre elas, e onze ficaram feridas. Enquanto isso, Jim Jones conclamava os fiéis a tomarem suco de uva com cianureto. Primeiro, 276 crianças, depois os demais adultos. Muitos beberam por vontade, outros o fizeram sob ameaça. Ao todo, foram 909 cadáveres. Jim Jones não ingeriu o veneno. Ele se matou com um tiro na cabeça. Apenas 35 pessoas sobreviveram.

Como as pessoas são atraídas para as seitas: Segundo a Rede de Apoio às Vítimas de Seitas, os líderes de seitas não se interessam por pessoas psicopatas, frágeis e conflituosas. Ao contrário, buscam jovens, idealistas, inconformados e inquietas, com estudos universitários e tendência a serem meticulosos. O que deixa essas pessoas vulneráveis é alguma crise pessoal, familiar ou no trabalho.

Em artigo na Folha, Ruy Castro comparou Jair Bolsonaro a Jim Jones. Para ele, o Messias brasileiro pode bater (já bateu) o recorde de mortes do reverendo ao contrariar a ciência, a OMS, as medidas mundiais e o bom senso na condução do combate à pandemia de Covid-19 propõe também um suicídio coletivo.



Chuck Palahniuk, americano, é conhecido por ser um escritor polêmico, de linguagem seca e irônica. O clube da luta foi seu romance de estreia, tornando-se um cânone da cultura pop. Antes de ser escritor, foi artista de rap, lutador amador e mecânico de caminhões. A vida pessoal também foi bem conturbada. Teve o pai assassinado com a namorada pelo ex-marido dela. Seu avó cometeu suicídio após matar a mulher. Sobrevivente é seu segundo livro e também causou grande impacto entre seus leitores. Vendeu os direitos de filmagem, mas isso foi antes do 11 de setembro de 2001. Não deve ir pra frente por conta da cena do avião. Qualquer semelhança pode ser pura coincidência.

 
 
 

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